sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Como não se deixar contaminar pelas falácias do período eleitoral



01-    O estilo Odorico: Suspeite do conjunto de expressões destinado a reduzir o impacto das palavras, como se isso diminuísse o impacto da realidade adversa, como por exemplo: a necessidade de “realinhamento de tarifas públicas” em lugar de “aumento de energia e gasolina”, “estiagem histórica” ou “crise de mananciais” em lugar do impopular “racionamento”.

02-   Vazio comunicativo: Construções de frases com que todos concordam, mas nada especificam, como por exemplo, “A cidade precisa de saúde”, “o futuro depende da educação”, padecem de detalhes que as transformem numa proposta concreta. Tais generalidades são úteis a candidatos porque compromissos explícitos assumidos podem ter um preço alto a pagar durante o mandato.

03-   Criar reservas mentais: Não implicação lógica entre premissas e conclusão: o que é concluído pode ser verdadeiro, mas não pelos motivos alegados. Dificilmente alguém discordaria da resposta.

04-   Distorção deliberada: Distorcer ou atribuir ao oponente um ponto de vista falso sobre uma questão é uma falácia que só se combate com pesquisa por parte do eleitorado, o que raramente ocorre. Em 1945, o presidenciável Eduardo Gomes, brigadeiro, declarou que não queria os votos da ”malta de desocupados que frequentava os comícios de Getúlio Vargas” Seus oponentes retiraram a palavra “malta” (bando) do contexto e espalharam que o brigadeiro se referia aos “operários que levam suas marmitas pelas linhas férreas”, os marmiteiros. Em outras palavras, equivalia a dizer que ele repugnava o voto da população de baixa renda. Então, Gomes virou um elitista aos olhos do eleitorado.

05-   Driblar a obrigação de provar: Desconfie ao menos de três formas mais frequentes de evitar a obrigação de oferecer evidências para sustentar um argumento:
1)    considerar óbvio que não há cabimento em questionar a afirmação. “Ninguém em seu juízo perfeito pode ser a favor da legalização da maconha.”
2)      O candidato se coloca como a garantia de correção daquilo que ele mesmo afirma. “Estou convencido de que...”
3)      Elaborar frases em que um comportamento isolado é generalizado, um traço específico vira um traço comum.

06-   Ignorar a questão concreta: É discorrer sobre algo paralelo à questão central, sem parecer que se muda de assunto. “O senhor é contra ou a favor da volta da CPMF?” “Veja bem: A captação de recursos para a saúde... blá, blá, blá... e fiz mais pela saúde ... blá, blá, blá... não se trata de onerar a carga tributária... blá, blá, blá...”

07-   Atacar a pergunta: Quando o governo não tem como defender um ato governamental, reage a um pedido de CPI pela oposição, dizendo que se trata de manobra eleitoreira. Quando a oposição quer desviar a atenção sobre uma ação do governo, faz o mesmo.

08-   Tirar o corpo fora: O orador justifica um erro pela tradição ou por um equívoco similar do rival feito tempos antes. Para não levar a culpa por algo, argumenta-se que as coisas sempre foram feitas daquela maneira ou o rival cometeu o mesmo deslize.

09-   Questão complexa: Uma afirmação prévia vem embutida numa pergunta ou numa afirmação. “A eleitoreira política social do governo gastou milhões do Tesouro”: o pressuposto é que a política social é eleitoreira.

10-   Efeito dominó: é concluir de uma proposição uma série de fatos ou consequências que podem ou não ocorrer. É um raciocínio levado indevidamente ao extremo, às últimas consequências. “O álcool e uma dieta pobre também são grandes assassinos. Deve o governo regular o que vai à nossa mesa? A perseguição à indústria de fumo pode parecer justa, mas também pode ser o fim da liberdade” (Veja, agosto 2000: 36) (JLF)

Rev. Língua Portuguesa, set 2014, Ano 9

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